sábado, 9 de agosto de 2008

Corre, corre

Acorda-se cedo e vai-se para o emprego, tem-se hora para entrar.O fim do dia ainda não se pode sair, tem que se continuar. Os dias passam, as noites passam e tem que se permanecer.
Um dia vai-se parar ao hospital o excesso de trabalho, a falta de descanço fazem das suas. Acontece uma, acontece duas, perde-se uma parte da memória, perde-se uma parte da vida, o medico diz que a cura é largar o emprego. Aguenta-se, a vida está dificil é preciso orientar. Mas eis que o medico tem razão e larga-se o emprego.
Corre, corre, procura-se trabalho, em pouco tempo ja se tem, é duro e mal pago mas dá para desenrascar. O tempo passa não apaerece mais nada, o patrão, para alem de pagar pouco, é muito esquecido em relação ao que tem que pagar. Aparece outro, paga mais, é mais duro mas aguenta-se. Esse, fecha portas e eis que ... Corre, corre, emprego precisa-se, trabalha-se uns dias aqui, outros ali até que... parou, não aparece mais nada, por muito que se procure o mercado esta saturado de oferta. Corre, corre, atrás de um sonho... vai-se estudar mas a vida ta muito dificil. Corre, corre, procura-se a felicidade... e quando ja se desistiu, ela aparece. Há uma esperança, os sonhos voltam a existir e ... Corre, corre, é urgente orientar a vida, não se pode perder a felicidade, ha muito para fazer... Obstaculos, falta o emprego, as coisas estão dificeis. Mas... Corre, corre porque se lutar vai-se conseguir, kero la chegar, tenho uma felicidade para segurar... Assim a vida se passa... no corre, corre.

1 comentário:

eu sou disse...

Calçada de Carriche

Luísa sobe,

sobe a calçada,

sobe e não pode

que vai cansada.

Sobe, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe

sobe a calçada.

Saiu de casa

de madrugada;

regressa a casa

é já noite fechada.

Na mão grosseira,

de pele queimada,

leva a lancheira

desengonçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.



Luísa é nova,

desenxovalhada,

tem perna gorda,

bem torneada.

Ferve-lhe o sangue

de afogueada;

saltam-lhe os peitos

na caminhada.

Anda, Luísa.

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.



Passam magalas,

rapaziada,

palpam-lhe as coxas

não dá por nada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.



Chegou a casa

não disse nada.

Pegou na filha,

deu-lhe a mamada;

bebeu a sopa

numa golada;

lavou a loiça,

varreu a escada;

deu jeito à casa

desarranjada;

coseu a roupa

já remendada;

despiu-se à pressa,

desinteressada;

caiu na cama

de uma assentada;

chegou o homem,

viu-a deitada;

serviu-se dela,

não deu por nada.

Anda, Luísa.

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

Na manhã débil,

sem alvorada,

salta da cama,

desembestada;

puxa da filha,

dá-lhe a mamada;

veste-se à pressa,

desengonçada;

anda, ciranda,

desaustinada;

range o soalho

a cada passada,

salta para a rua,

corre açodada,

galga o passeio,

desce o passeio,

desce a calçada,

chega à oficina

à hora marcada,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga;

toca a sineta

na hora aprazada,

corre à cantina,

volta à toada,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga.

Regressa a casa

é já noite fechada.

Luísa arqueja

pela calçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada,

sobe que sobe,

sobe a calçada,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

Poesias Completas (1956-1967)