Acorda-se cedo e vai-se para o emprego, tem-se hora para entrar.O fim do dia ainda não se pode sair, tem que se continuar. Os dias passam, as noites passam e tem que se permanecer.
Um dia vai-se parar ao hospital o excesso de trabalho, a falta de descanço fazem das suas. Acontece uma, acontece duas, perde-se uma parte da memória, perde-se uma parte da vida, o medico diz que a cura é largar o emprego. Aguenta-se, a vida está dificil é preciso orientar. Mas eis que o medico tem razão e larga-se o emprego.
Corre, corre, procura-se trabalho, em pouco tempo ja se tem, é duro e mal pago mas dá para desenrascar. O tempo passa não apaerece mais nada, o patrão, para alem de pagar pouco, é muito esquecido em relação ao que tem que pagar. Aparece outro, paga mais, é mais duro mas aguenta-se. Esse, fecha portas e eis que ... Corre, corre, emprego precisa-se, trabalha-se uns dias aqui, outros ali até que... parou, não aparece mais nada, por muito que se procure o mercado esta saturado de oferta. Corre, corre, atrás de um sonho... vai-se estudar mas a vida ta muito dificil. Corre, corre, procura-se a felicidade... e quando ja se desistiu, ela aparece. Há uma esperança, os sonhos voltam a existir e ... Corre, corre, é urgente orientar a vida, não se pode perder a felicidade, ha muito para fazer... Obstaculos, falta o emprego, as coisas estão dificeis. Mas... Corre, corre porque se lutar vai-se conseguir, kero la chegar, tenho uma felicidade para segurar... Assim a vida se passa... no corre, corre.
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Calçada de Carriche
Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Poesias Completas (1956-1967)
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